sexta-feira, 2 de março de 2007

Magnífico

Já que minha inspiração caiu junto com a Bolsa Chinesa, resolvi inaugurar o mês de março com uma crônica retirada da Zero Hora, de autoria de Luís Fernando Veríssimo.

"Emília, Emília, Emília
(Do baú) Alguém se lembra de um grupo chamado Os Três Moraes? Dizem que vem aí um chamado Os Três Imorais. Uma nova versão do conjunto vocal Quatro Ases e um Coringa será adaptado para os tempos atuais e se chamará Quatro Ases e um Quinto na Manga. O Caymmi ainda não autorizou, mas uma versão atualizada da sua música será assim: "O mar de lama, quando quebra na praia..." etc. Lembra a saudosa maloca? Estava perto de uma escavação do metrô e desabou. A casinha pequeninha onde o nosso amor nasceu, lembra? A que tinha um coqueiro do lado que, coitado já morreu? Descobriram que não foi de saudade, foram agrotóxicos. A casinha também se foi, engolida pela especulação imobiliária. Aquela outra casa, à beira de um regato e de um bosque em flor? Demoliram. O terreno foi ocupado por uma agroempresa multinacional, e tem havido conflitos na região, inclusive com invasões de sem-terra. O barracão de zinco lá no morro virou QG do narcotráfico e foi arrasado numa recente batida policial. Os disparos perfuraram o zinco e salpicaram de balas o chão, atingindo a cabrocha, o lança-granadas e o violão. Sabe a deusa da minha rua? Descobri que era um travesti. O apito da fábrica de tecidos não fere mais os meus ouvidos porque a fábrica faliu, desempregando muita gente que agora luta na Justiça pelo Fundo de Garantia. Ninguém aprende samba no colégio, nem samba nem mais nada, com a baixa qualidade da educação. Um bom jantar, à beira-mar, para turista que pode pagar: Copacabana. E à tardinha, o sol poente, tem sempre alguém assaltando a gente. Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é ela que... Epa, vem na nossa direção, e tem uma arma! Emília, Emília, Emília, eu não posso mais. Enquanto isso, na gafieira segue o samba calmamente mas malandro que é malandro ganha dinheiro com CDB e só dança em boate privê. E uma edição revisada da Seleta em Prosa e Verso trará esta parábola exemplar: "Tendo a formiga antiga trabalhado todo o verão, achou-se em penúria extrema na tormentosa estação. Não lhe restando migalha que trincasse, poverella, foi valer-se da cigarra que morava perto dela. Rogou-lhe que lhe emprestasse, pois tinha riqueza e brio, algum grão com que manter-se té voltar o aceso estio. 'Amiga (diz a formiga), prometo, a fé d'animal, pagar-vos antes de agosto os juros e o principal.' A cigarra nunca empresta, nunca dá, por isto ajunta... 'No verão em que lidavas?', à pedinte ela pergunta. Responde a outra: 'Eu trabalhava noite e dia, a toda hora'. 'Oh! Bravo! (torna a cigarra) Trabalhavas em vez de aplicar no mercado de capitais e na especulação financeira? Pois dança agora!'"."

Um comentário:

Guilherme Gomes Ferreira disse...

Ôu Jr! inspiração é assim mesmo, é um saco! Qdo vc ta inspiradissimo não tem tempo, qdo tem tempo não está inspirado hehehe

eu vou ajudar vc a fazer propaganda do teu blog. Mas quero uma comissão de 30% sobre os lucros totais hahahahaha

Sobre o texto, muuuuuuuito maneiro mesmo! Mas eu acharia mais legal ler alguma coisa sua. Mesmo que não seja nada sobre politica, pode ser alguma coisa q vc sinta, vontade de falar, alguma coisa que aconteceu com vc, sei lá!

boa sorte cara! Abração!